segunda-feira, 9 de agosto de 2010

-om, ám/-ão: a cousa não vos era pra tanta lideira!

O Luar de Janeiro já leu avondo sobre este tema e, recentemente, nos foros do Portal Galego da Língua (http://www.pglingua.org/) volveu-se falar no assunto, pois alguém comentou sobre a atualizaçom da Norma AGAL...
Coma sempre, a discussão foi azeda, ríspida e por vezes desrespeitosa. Num foro de pessoas civilizadas, como é o do Portal, ninguém devia "perder as estribeiras", de jeito que a coragem na defesa das ideias não devia virar carragem.
A discussão vem já de velho. Como é sabido, a norma AGAL parte de uma filosofia: as falas galegas (isto dito sem qualquer matiz pejorativo), como as portuguesas, podem ser entendidas como realizações de um mesmo sistema linguístico e, portanto, podem inserir-se numa norma, a galega, que seria assim mais uma variante de uma língua comum. Quer dizer, a norma galega seria, à par da portuguesa e da brasileira, mais uma das que conformam hoje, no mundo, a língua portuguesa (ou galega ou galego-portuguesa), como língua supranacional e pluricêntrica.
Diferentemente dela, a normativa RAG-ILG entende que o galego fai parte dum sistema linguístico (comum ao português e brasileiro), mas é uma língua diferente e, portanto, o padrão galego é autónomo e distinto ao das outras ramas do sistema. Ao menos assim foi entendido tradicionalmente polos defensores desta normativa.
Consequentemente com a sua posição, a AGAL entendeu que a norma galega, substancialmente comum com as outras do seu sistema linguístico, podia ser lida e considerada como a mesma língua por qualquer leitor luso-brasileiro. Ao cabo, o leitor português ou brasileiro estaria a ler um texto na sua própria língua. A norma galega conservaria peculiaridades da língua próprias da Galiza, como fai o português do Brasil, por exemplo, a respeito do de Portugal (pensemos na ausência do artigo com os possessivos, na colocação dos pronomes, etc) Entre as peculiaridades da Norma galega estaria a conservação etimológica das terminações próprias da língua medieval que unanimemente as falas galegas mantêm (-om, -am, -ao/-am, ladrom, pam, irmao/irmám), o digrafo -mh- em palavras como umha, nengumha, as formas verbais peculiares da Galiza (algumas delas presentes também em dialetos portugueses...), plurais em -ns (capitans, ladrons, irmaos/irmáns), etc. Como sabemos, o português de Portugal e do Brasil reduziu aquelas terminações em -ão, conservando os plurais a sua origem etimológica. Assim, o singular harmonizou em -ão (ladrão, pão, irmão) mas o plural conservou a origem (ladrões, pães, irmãos) ainda que a harmonização do singular trouxo, como bem explicava no foro do PGL o professor Dr. Fernando Venâncio, inúmeras confusões, ao ser esquecida a etimologia do singular, de que ainda são testemunhas os dicionários portugueses: verão/verãos, verões; guardião/guardiães, guardiões; vulcão/vulcões, vulcães, vulcãos. Com frequência esta confusão fizo com que as formas não etimológicas se fossem impondo na prática: verões, guardiões, vulcões... No entanto, a norma galega conserva na escrita a memória da origem da palavra, de maneira que o leitor galego sabe que o plural de vulcam é vulcans, de verao é veraos, de guardiam é guardians (ou verãos, guardiães, vulcães como despois chegou a admitir a própria AGAL) O professor Fernando Venâncio alertava, no foro do PGL, para o perigo de o galego vir a cair na mesma confusão que caracterizou o português durante vários séculos como consequência daquela unificação no singular, e propugnava os galegos conservarem na escrita, e não só na oralidade, as terminações que a norma AGAL mantém. E não lhe faltava razão...
Ora, o Luar de Janeiro lembra mui bem, porque já vai tendo os seus anos, como algumas publicações reintegracionistas começárom a afastar-se dessa prescrição da AGAL e começárom a defender o uso do til, primeiro só nos plurais e em casos em que a etimologia o demandava (ladrom, pam, irmão/ladrões, pães, irmãos), despois quijo-se chegar a uma solução intermédia no singular (ladrom, pãm, guardiãm, irmão) e finalmente acabárom por reduzir no singular tudo para -ão, seguindo neste ponto a norma portuguesa e brasileira: ladrão, pão, irmão/ladrões, pães, irmãos. O Luar lembra muito bem, no II Congresso Internacional da Língua Galego-Portuguesa na Galiza, alá polo ano de 1987, como um grupo de professores organizaram uma espécie de reunião paralela onde proclamavam a sua adesão ao Acordo Ortográfico de 1986, esse que suprimira os acentos e despois deu em nada... Nessa reunião, o Professor Isaac Alonso Estravis apresentou o seu Estudos Filológicos Galego-Portugueses, livro que o Luar leu e releu naqueles anos de tenra juventude...
Argumentavam estes que a unificação ortográfica devia ser total, e que escrever -ão faria com que os falantes luso-brasileiros nos lessem melhor, inseriria o galego dentro da lusofonia de pleno direito, e não impedia que os galegos seguissem pronunciando como sempre: assim, ladrão, pão, irmão, não, na Galiza leriam-se: ladrom, pam, irmao/irmam/irmão, nom, etc.
A partir daí, mais ou menos recorrentemente, houvo sempre um enfrontamento entre os partidários de -om e os partidários de -ão. O número dos -ãoistas foi em aumento, ao ponto que a Comissom Línguística da AGAL acabou por aceitar o til de nasalidade como possibilidade nos plurais e nos casos etimologicamente justificados: ladrom, pam, irmão/ladrões, pães, irmãos. Os partidários do -ão pedírom mais, mas a Comissom já não cedeu (No número 19 da revista Agália está a resposta da Comissom).
Uma solução intermédia foi a ensaiada no dicionário e-estraviz. Nele, mantêm-se os galeguismos -om, -am, -ão, polo, che/te, cousa, fazendo os plurais em -ões, -ães, -ãos e desaparecendo umha que passaria para uma, e propugnava as formas verbais portuguesas: disse, fiz, fez em lugar das peculiares da Galiza dixo, figem/fizem, fijo/fizo...
Podemos sintetizar os argumentos de uma e outra postura, muito brevemente:
-OMistas: fidelidade às falas galegas, a unidade da língua não deve impedir a sua diversidade, e manter esta peculiaridade galega é enriquecedor, evitando confusões nos plurais e o possível esquecimento das formas próprias da oralidade galega, se não se virem reflectidas na escrita. Com efeito, grafar tudo em -ão implica introduzir uma alteração na morfologia e fonética alheia à variedade galega da língua comum, que deve ser respeitada como a brasileira fai com as suas peculiaridades. A norma galega seria assim pedagógica, achegada à realidade do galego atual, e internacional, por ser substancialmente lusófona. Ninguém poderia acusar os reintegracionistas de entreguistas ou mimeticamente adotantes de tudo quanto soe a português...
-ÃOistas: uma cousa é falar, outra escrever. Grafar tudo em -ão não impede que cada pessoa pronuncie como quiger (de facto, não hai uma única pronúncia galega, pois dentro do próprio galego há várias pronúncias possíveis: por exemplo, corações pode realizar-se como coraçons, coraçôs, coraçois, coraçoes, corações...). A escrita nem sempre pode ser fonológica. Antes, quanto mais suprafonológica for, melhor. Por exemplo, pense-se na escrita inglesa, bastante distante da sua dicção, mais do que a portuguesa, e se nada impede aos ingleses escreverem e pronunciarem corretamente, nada impede tampouco aos galegos escreverem da forma comum, ainda que a sua pronúncia se mantenha como tradicionalmente foi conservada. Hai, continuam, variedades do português onde se mantêm pronúncias semelhantes às galegas, mas isso não impede uma grafia comum, etc. O discurso de manter as peculiaridades galegas acaba por ser análogo ao dos isolacionistas e acaba por implicar uma consideração do galego como língua diferente do português... Até, houvo quem chegou a dizer que a norma AGAL era uma variedade mais do Portunhol semelhante ao Portunhol do ILG-RAG (num exagero mais do que evidente ao ver do Luar...) Quanto às acusações de radicalismo antipedagógico que lhes fam os partidários da norma AGAL, eles respondem que não hai nada que impeça os galegos escreverem português, e acusam os seus contrários, até, de complexo de inferioridade, ao considerarem os galegos incapazes de chegarem a dominar a ortografia do português (-Porque não podemos escrever em português? tão burros e pouco inteligentes somos?-chegam a dizer-)
Estes autores aderírom posteriormente o Acordo Ortográfico de 1990, que têm praticado até agora, depois da experiência falida do de 1986, e que já foi vigorado em Portugal.
Antes de continuarmos, o Luar quer recomendar a leitura do artigo de José Henrique Peres Rodrigues, muito esclarecedor, intitulado "A Escrita e a Norma cara ao Século XXI", no número65/66 da Agália, do primeiro semestre de 2001. Explica, muito melhor ca mim, e mais por extenso e polo miúdo, a polémica e os argumentos de uns e de outros.
A controvérsia chegou frequentemente à desqualificação e até ao insulto, encirrando os ânimos numa animadversão que fai ao Luar ficar perplexo..., gerando divisões no seio do reintegracionismo, que em nada o favorecem.
Ora, a cousa dista de ser tão simples, porque dentro de uma e outra tendência hai matizes: pensemos que os hai que escrevem com -ão mas com formas verbais galegas, ou com -om e formas verbais portuguesas. Hai, ainda, quem considerou a necessidade de inserir as falas galegas dentro do padrão português, ao ponto de ser a norma de Lisboa o referente da Galiza. O sonho destes poderia sintetizar-se numa Galiza mais ou menos integrada politicamente em Portugal, e a RTP (televisão portuguesa) a impor a norma lisboeta varrendo triunfalmente -qual novo D. Afonso Enriques dacavalo, de espada à mão e lança em riste- falas transminhotas, como já fizera com tanta variedade linguística que esmoreceu dentro do próprio Portugal... Por isso, talvez devamos falar de um continuum que vai da norma AGAL na sua versão originária (-om, -am, -ao/-ons, -ans, -aos), até os partidários do padrão português (até com formas verbais portuguesas, pelo pela, em lugar de polo, pola, dois coisa em lugar de dous cousa), que os hai e senão vede algumas das obras de autores moços galegos da coleção de poesia de Cadernos do Povo, Nós, O Ensino...
A tendência -omista da norma AGAL foi recentemente atualizada (A famosa Atualizaçom de que aqui já se falou) para se adatar ao Acordo Ortográfico de 1990, que finalmente foi vigorado em Portugal como já ficou dito.
Portanto, por clareza, distinguiremos entre a Norma Galega da AGAL adatada ao Acordo Ortográfico de 1990, e a norma dos (-ãoistas) partidários do mesmo Acordo Ortográfico, os quais, entre as possibilidades que deixa o Acordo, e perante a ausência de uma norma ortofónica própria da Galiza, se acolhem à norma portuguesa do Acordo (Acordo que permite certa flexibilidade dependendo das pronúncias, consagrando, longe da unidade total, como já advertiu o professor Venâncio, a possibilidade de existência de uma norma portuguesa e outra brasileira, acolhendo-se os -ãoistas galegos à portuguesa por razões práticas fundamentalmente) Esta última linha concretizou-se à volta da recentemente criada Academia Galega da Língua Portuguesa.
Chamaremos à primeira norma AGAL atualizada (entendida na versão mais moderna, a que admitiu o til de nasalidade em irmão, ladrões, pães, irmãos) e à segunda Acordo Ortográfico (AO)

Despois do exposto o Luar deve dizer que tem experimentado, ao longo dos anos, na sua escrita, todas as possibilidades da Norma Agal, atualizada ou não, em versão primeira ou modernizada, bem como de AO. E isto com muitas vacilações, num percurso semelhante, julga, ao de muitos galegos. Leu argumentos e contra-argumentos e, passado o tempo, acabou por pensar que havia razões para ambas as linhas de pensamento. Todos tinham a sua parte de razão, se bem que posturas extremas, como pensar que o galego é conjunto de falas vulgares, que convém uniformar recorrendo ao padrão de Lisboa, ou pensar que a norma AGAL não é português, mas uma versão esquisita do galego isolacionista, devem ser rejeitadas.
Como clarificar a questão? São realmente tão diferentes as duas posturas?
Se ambas as posturas rejeitam o galego espanholizado do ILG-RAG, se ambas as posturas pensam que galego e português são ou, ao menos, podem ser entendidas, como variantes da mesma língua, se igualmente observamos que hai, realmente, um continuum entre uma e outra posição, mas que todos defendem a mesma filosofia, fora posturas radicais e acusações sem fundamento, porque tanta visceralidade?
O Luar pensa, na realidade, que uma vez vigorado o Acordo, e sendo já inevitável a sua aplicação, atualizada já a Norma AGAL, consoante ao Acordo, a Norma AGAL atualizada e AO são, realmente, a mesma norma (melhor ou pior construídas, pois já ficou dito aqui como os critérios da Atualizaçom não parecem os mais afortunados e, por outra parte, não parece muito lógico acolher-se ao AO versão Lisboa em lugar de procurar uma versão galega do Acordo dentro do seu espírito, como com fortuna pouca tentou a Comissom Linguística da AGAL) Pondo uma e outra (AGAL e AO) o ênfase em mais ou menos peculiaridades galegas, no fundo são a mesma cousa. O galego é uma variante (com mais ou menos personalidade) dentro da língua comum. Essa é a filosofia que ambas as duas tendências reintegracionistas seguem: galego e português, a mesma língua. Porque, já que logo, tanta genreira?
Mas as peculiaridades e as variantes podem conviver dentro duma mesma norma. Acontece na fala, e pode acontecer na escrita. Na língua castelã, os argentinos têm as suas próprias formas verbais (vos tenés é o mesmo que em Espanha tú tienes; ustedes tienen é o mesmo que em Espanha vosotros tenéis). Na página da Real Academia Espanhola (http://www.rae.es/), se clicarmos na conjugação de um verbo, aparecem as variantes argentinas à par das comuns. Na imprensa argentina, no cinema, achamos estas variantes, mas eles também conhecem as formas comuns e podem utilizá-las chegado o momento, e segundo o contexto.
Nada impede, portanto, os galegos fazerem o próprio. Os galegos aprenderiam a ler e a escrever com os seus -om, -ám, formas verbais, umha, que não só pronunciariam, mas também escreveriam, não perdendo assim a sua riqueza e peculiaridade galega. Depois o ensino mais avançado iria advertindo da existência de outras formas verbais que também são e fôrom galegas, mas que hoje não são correntemente empregues na Galiza, fazendo parte, porém, da versão mais internacional do seu idioma. E aprenderiam que reduzindo, na escrita que já praticam, -om, -am, -ão, para -ão, o seu galego adquere a feição mais internacional possível. Não perderiam a riqueza da sua morfologia, conheceriam perfeitamente qual é a pronúncia e realização, galega e etimológica, de ladrão, pão e irmão, porque assim a aprendêrom na escrita e continuam a empregar em todos os aspetos quotidianos do seu ler e escrever (ladrom, pam, irmão, que lhes seriam tão familiares como ladrão, pão e irmão) Leriam e interpretariam corretamente qualquer texto lusófono, vinhesse de onde vinhesse. Não duvidariam nunca sobre qual o plural de verão, guardião, irmão... Conheceriam as variantes portuguesas e brasileiras e, fora certas peculiaridades a que nunca renunciariam, como formas verbais, polo, pola, cousa, dous, te/che, etc, marcas sempre presentes de galeguidade, adatariam a sua escrita ao contexto, de maneira que usariam mais ou menos peculiaridades próprias da variante galega consoante o ambiente e a natureza do que escrevem (não é igual um texto literário, jornalístico, epistolar, íntimo...que um texto científico)
Cuido que, deste jeito, se poderia superar esta polémica que tantas forças desaproveitou para a luita fundamental que o reintegracionismo tem de conseguir cara ao futuro e como, ao ver do Luar, derradeira esperança do galeguismo: reunir um número de utentes tal que consigam uma mudança no Poder galego, orientada primeiro a um binormativismo em que a norma reintegrada seja tolerada polo Poder, para deixar concorrer livremente isolacionismo e reintegracionismo, em igualdade de condições. De ocorrer esta hipótese, o resultado não devia deitar dúvidas sobre qual será a linha triunfante: para o Luar de Janeiro acabaria por ser o reintegracionismo...
E isto sem dogmatismos nem desqualificações. Sem excluir qualquer cousa vinda do isolacionismo por ela vir de onde vém, aproveitando o aproveitável que sem dúvida é muito, adatando-o ao nosso jeito de entender a língua.
Doutra banda, não se pode perder de vista o percurso ideológico do isolacionismo que, lentamente, se encaminha cara a convergência com o português. De facto, já advertiu o professor Fernando Venâncio como no léxico os avanços no campo isolacionista são cada vez mais patentes adotando terminologia do Além-Minho, e mesmo rejeitando castelanismos hai séculos presentes na norma portuguesa...
Portanto, aos isolacionistas hai que deixá-los fazer, ao seu ritmo, sem dogmatismos e com posturas conciliadoras, tentando atrair para o campo reintegracionista quantos mais deles melhor. E outro tanto acontece com os chamados "reintegracionistas platónicos", alguns dos quais praticam já, até, o chamado binormativismo (Camilo Nogueira, Suso de Toro, Pilar Garcia Negro, Freixeiro Mato...) Hai que os respeitar aceitândomos como nossas as suas obras, em lugar de os criticarmos. Cada quem precisa o seu ritmo e seguir o seu próprio percurso e caminho. E os reintegracionistas têm de atrair e gerar simpatia e curiosidade, e não animadversão ou ódio.
O tempo dirá, pero o Luar de Janeiro vê que isto já é tema para outra entrada neste blogue desvairado... E prefere falar de estratégias noutra ocasião, que polo de hoje já chega.
Grato pola atenção.

51 comentários:

Luar de Janeiro disse...

Houvo réplica:
http://www.pglingua.org/foros/viewtopic.php?f=8&t=1692&start=30

O Luar relê a postagem e nela não deteta nada do que nesse comentário lhe atribuem. Nem considera AGAL uma frente única, nem a AGLP, nem é mais amante da AGAL que da AGLP. E nem é contra a AGLP, nem inimigo dela, antes, é favorável e amigo dela, mesmo sem concordar em tudo com os seus critérios linguísticos, nem com os da AGAL, como já se vê polo que aqui escreve nesta e noutras postagens.
O de famulismo (já chegamos como sempre às desqualificaçoes pessoais)é palavra que não aparece nem no e-estraviz nem no priberam. Nesses dicionários aparece "famulagem". Suponho que a autora do comentário se refere a este último termo. Se ler todas as postagens verá que se por alguma cousa elas se caraterizam é pola sua imparcialidade, quer na forma, quer no fundo.
Se o Luar quiger polémicas, já tinha os foros da AGAL, como as não quer, fala o que lhe peta neste blogue que para isso foi criado.
Vale.

Isabel Rei disse...

Não, o que a autora da réplica queria dizer era isso "famulismo", termo que não foi inventado por ela, claro está. "Famulagem" é o conjunto de fâmulos, mas "famulismo" é o desporto que os fâmulos praticam.

Não há desqualificação pessoal nessa crítica. O famulismo é um costume social extenso na Galiza. É graças ao famulismo que muitos cargos oficiais chegam a altos. Que muitos afortunados aprovam concursos-oposição. Mesmo é preciso praticar o famulismo para ingressar como aluno/a numa escola pública, em alguns casos.

O famulismo, ou a contradição de coincidir em tudo com alguém partindo da base de que podemos entender-nos sem coincidir em tudo..., é uma perversão da identidade pessoal, na minha opinião.

O tom da resposta de Luar de Janeiro confirma-me na minha suspeita: erro de paralaxe devido à exposição excessiva aos raios da AGAL...

Sim, no seu comentário inicial pode ver-se um conjunto que não é tal conjunto, como o Luar mesmo demonstra na ortografia que usa.

Vou colocar esta resposta onde coloquei a outra. Saúde.

Luar de Janeiro disse...

Famulismo e transtorno de personalidade, exposição excessiva aos raios da AGAL... Logo se vê como quem se afasta uma linha do pensamento oficial já é "castigado" daquela maneira e com desqualificaçoes desse teor.
Por favor, eu não lhe faltei, se vai continuar nessa linha esqueça-me.

Celso disse...

E onde estão esses/as ãoístas que quereriam se fundir com Portugal e que se impusesse a norma oral de Lisboa a meio duma Incontinente Invasão Televisiva? Pode Luar de Janeiro dar algum nome?

Luar de Janeiro disse...

Celso, eu não sei onde estão agora, é verdade que hai muito tempo que não escuito ou leio falar a ninguém nesses termos, mas hai alguns anos, aquando dos primeiros congressos da AGAL houvo pessoas que falavam assim e me dixérom isso. Nomes? Pois olha, prefiro não dar porque nem sei se essas pessoas continuam a pensar exatamente nesses termos e nem sei se gostariam que eu aqui os désse, para além disso, não me recordo exatamente de todos eles nem sei se poderia dar algum nome errado. Por isso prefiro não dar.
Contudo, nao digo que todos os ãoistas pensem assim, provavelmente sejam uma minoria se é que ainda hai, e o mais possível é que a maioria dos -ãoistas não diga isso (falava-se só de posicionamentos extremos dentro dessa linha, não do pensamento geral dentro dela), nem penso que tenha muita importância na ideia que a postagem pretende dar que era, apenas, fornecer uma panorámica geral (imperfeita como toda generalização) da polémica -ão/om e dar uma opinião sobre uma possível solução dela.
E, claro, nem era o objetivo atacar ninguém, nem muito menos à AGLP... ou a AGAL, só dar uma opinião sobre essa polémica...

Venâncio disse...

É sabida a tremenda confusão que em Portugal, à volta do século XV, se estabeleceu (e que dura até hoje, e durará nos próximos séculos) quanto às formas do plural, devido à fusão em ÃO dos antigos (e galegos) singulares em AO/ÃO, AM e OM.

Durante os séculos seguintes, os doutrinadores gramaticais portugueses aconselharam sistematicamente a "olhar para o CASTELHANO" para determinar quais as formas correctas dos plurais portugueses. Num livro recente, o Valentim Fagim aconselhava o mesmo aos actuais e futuros ãoistas galegos.

Acabo de descobrir (e por isso relembro a questão) que em pleno século XX se repetiu esse conselho de olhar para o castelhano, que (parece claro) confere ao idioma de CASTELA um estatuto de língua de referência.

Os reintegracionistas galegos ainda estão a tempo de NEGAREM ao castelhano esse estatuto, conservando as terminações galegas, e, de caminho, furtarem-se à humilhação que os portugueses a si mesmos infligiram.

Eu sei que, para a Ideologia, a História não conta. A ideologia é, de si, a-temporal, e por isso demagógica. A demagogia dos actuais doutrinadores ÃOistas galegos é por demais patente.

Venâncio disse...

2020

O PL (Partido Lusista) acaba de ganhar as eleições em (fornecemos a nova grafia) Andão, Boqueixão, Castelãos, Corcubão, Donhão, Fontão, Manhão, Meizarão, Mouretão, Narão, Nigrão, Padrão, São Ramão e Savinhão.


2045

Os cidadãos das localidades regidas pelo PL discutem animadamente sobre qual a pronúncia GALEGA dos nomes das suas terras.


2080

Só cidadãos idosos (nascidos por volta de 2010) conhecem ainda os nomes GALEGOS de Andão, Boqueixão, Castelãos, Corcubão, Donhão, Fontão, Manhão, Meizarão, Mouretão, Narão, Nigrão, Padrão, São Ramão e Savinhão. Esses cidadãos são frequentemente objecto de mofa e desdém.

Luar de Janeiro disse...

Hai muito de certo nisso, ao meu ver. Ao meu ver, também, a toponimia não devia mudar para -ão, mas deixar-se com a pronúncia local: Boqueixom, Narom, Padrom, Nigram, Savinhão, Castelãos...
Quanto ao resto das palavras,a solução dada na postagem pode ser um caminho para a variante galega conservar a sua personalidade, não em maior medida, mas também não em menor medida, que outras variantes como a brasileira. Pode haver diversidade na unidade, como já dixera o Isaac Estravis num artigo que lhe lim hai alguns anos.
De facto, eu emprego -om na comunicação informal interna com galegos, ou com amigos portugueses, no messenger, etc... Como sei falar e escrever em -om não tenho qualquer problema em saber os singulares e os plurais. Quanto a esses topónimos, os que conheço não tenho dúvida na sua pronúncia, os que não conheço duvidaria, o que acontece é que, mesmo admitindo tudo em -ão os topónimos não deviam mudar. E quanto ao resto das palavras, se na Galiza, à par que em -ão, subsistissem as grafias -om,-am para consumo interno, como na Argentina com palavras e formas verbais, não haveria problema.

Venâncio disse...

Caro Luar,

Na Lusofonia (whatever it may be) ninguém tem necessidade de que os galegos mudem em ÃO as finais dos seus topónimos. A fixação lusópata, essa, imagina que os lusófonos têm alergia a terminações em AM ou OM. Ou que acham isso "rural", provinciano, ou (como dizem os portugueses) "saloio".

Isso vale perfeitamente também para os substantivos, os adjectivos, as formas verbais.

Mas quem vai convencer a Ortodoxia lusista de que os lusófonos NÃO são parvos? Quem vai livrá-la do complexo de inferioridade "galego", que ela interiorizou ao ponto de aceitar todos os ridículos?


Ass.
Um lusófono (whatever it may be)

Venâncio disse...

No fórum do PGL (Portal Galego da Língua), o comentador Nambuangongo atribui-me uma «cruzada anti-AO».

Para quem não saiba: o Acordo Ortográfico 1990 regula meia-dúzia de aspectos, de importância diversa, da ortografia do português. Ponto mais salientável, e muito positivo: institui para alguns desses pontos NORMAS NACIONAIS: de momento, uma brasileira e uma portuguesa.

A Ortodoxia lusista, sedenta de "unidade", confunde um arranjo ortográfico pontual com UM MODELO ÚNICO DE LÍNGUA, quando na bendita Lusofonia há já DOIS reconhecidos modelos (morfológicos, lexicais, sintácticos, ortográficos), e esperam-se mais.

Assim, a dita Ortodoxia abandona, deliberadamente, a oportunidade de criar um MODELO GALEGO. Limita-se a imitar servilmente o modelo português, e diz que isso é o «português da Galiza»...

É esta inenarrável falcatrua que importa denunciar. Por mim, tenho fôlego para dez Nambuangongos.

Celso disse...

Acabáramos, Luar: Não lembras quem disse isso da necessária imposição na fala de Lisboa, nem quando, nem... Só imaginas que esta postura é provavelmente minoritária, etc. Bom, eu digo-che quem diz agora algo assim sobre a fala de Lisboa (a risco de esta posição ser deturpada, se se quer fazer propaganda, não crítica): eu. Eu mantenho que preferiria que toda a Galiza falasse exatamente à lisboeta, adoptando todas as ditongações polo (suposto) efeito da escrita em "ão", antes que desaparecesse o galego por dialetalização ao espanhol. Esta maciça ditongação seria, como tenho apontado em ocasiões, sintoma de que o país estava alfabetizado e que o galego se mantinha. Sou Ãoísta Lusista por uma razão muito singela: porque a alternativa, hoje, é que a gente tenha inoculada na cabecinha (como tem) a ideia de que a nasal final galega se representa perfeitamente com dous solenes ÓN e ÁN castelhanos, ¡pardiez!, ¿cómo va a ser de otra manera?, ¡si el gallego es una lengua autonómica! O "ão" nos diz que o galego NÃO PODE NÃO SER LÍNGUA PORTUGUESA. Se não se compreende o argumento, distorça-se, por favor. Mas, se concordamos que o galego é língua portuguesa, não sei por que alguma gente não concorda que se escreva como tal.

De resto, continuas, como costuma fazer-se, a colocar o carro antes dos bois: na aquisição da linguagem e aprendizagem da língua, primeiro é a fala, depois a escrita. É absurdo pensar que uma criança que diz [pãN, pâNs], [mãN, mãNs], [balõN, balõNs], por exemplo, quando aprenda a escrever "pão" e "pães", já NÃO VAIA SABER como se pronunciam. É absurdo. Aprende-se primeiro a escrever a fala, e depois a pronunciar a escrita de palavras desconhecidas. As primeiras palavras que se ensinam não são "bosão" nem "prevaricação".

Venâncio disse...

A Ortodoxia lusista, grande aficionada do Acordo Ortográfico de 1990, esquece esta coisa simples que o próprio Acordo estabeleceu: daqui por diante, é a pronúncia que determina a escrita.

Exemplo: em Portugal, dizemos «expetativa», e por isso passaremos a escrever expetativa. Mas dizemos expectante e expectação, e assim continuaremos a escrever também.

Acontece que no Brasil se diz expectativa, expectante, expectação, assim se escreve, assim continuará a escrever-se.

É um exemplo simples, escolar, que pode multiplicar-se por centenas.

Realmente, primeiro está a fala. Daí que as diferenças estruturais galegas AO/ÃO, AM e OM (que não são "espanholas", mas autenticamente galego-portuguesas!) devam ser expressas na escrita. Ninguém na "Lusofonia" vo-lo levará a mal. Pelo contrário, há-de respeitar e apreciar, tal como se passa entre brasileiros e portugueses.

Será muito pedir aos apóstolos galegos do A090 que se sentem um bocadinho a pensar, antes de lançarem ao Mundo mais ideologemas?

Vendo bem, o ÃO é para os lusistas o que o Ñ é para os espanholistas. Um puro fetiche. Para além da racionalidade. E do AO90...

Venâncio disse...

Mais alguns factos (e não ideologemas): há séculos que portugueses e brasileiros vivem numa contínua insegurança acerca de vários plurais dum singular uniforme em ÃO. A questão volta em todas as gramáticas e é detalhada em todos os prontuários.

No decorrer do tempo os plurais multiplicaram-se. Exemplo. Ao princípio era só aldeãos, mas, com o multiplicar-se dos erros, passou a admitir-se também (é o caso hoje) aldeães e aldeões. O mesmo se passa com anciãos, anciães, anciões ou cidadãos, cidadães, cidadões, todos admitidos hoje em dia. Etc., etc.

Liberdade, pois? Nenhuma. Só hesitação e confusão. Há serãos, serões, mas não serães. Há verãos, verões, mas não verães. Há guardiãos, guardiões, mas não guardiães. Ou sim? Etc., etc.

É este o magnífico futuro que os lusistas desejam aos galegos. Aconselho-os a olharem para o que REALMENTE aconteceu e para o que REALMENTE acontece em toda a "Lsuofonia", antes de projectarem no futuro os seus fetiches.

Nambuangongo disse...

O mais engraçado desta discussão é que os dois defensores das terminações -om,-ám escrevam seus comentários com terminação -ão. E sem errarem nos plurais!

Bom, também é certo que eles são gente VIP, muito acima dos pobres galeguinhos, incapazes de escrever como eles o fazem.

Nambuangongo disse...

Fico admirado com a sabedoria infinita do professor Venâncio: o modelo de língua galego consiste nas «terminaçons». Com elas já temos modelo linguístico próprio, sem elas já não.

Vaites!

Venâncio disse...

Não, Nambuangonguinho. Eu escrevo com as terminações "correctas" porque consegui, com esforço, superar a série de hesitações e hipercorrecções em que os meus tetravós andaram e em que andam ainda compatriotas meus menos afortunados. Mas eu próprio (como português normal...) ainda hesito, e vou frequentemente verificar ao Prontuário o que é admitido e o que não o é.

A este propósito: a memória linguística das terminações adequadas pode perder-se em duas gerações. Assim sucedeu em Portugal no decurso dos séculos XIV-XVI. Claro: na Galiza, o conhecimento do espanhol haveria sempre de "amparar" a formação dos plurais de ÃO, o que a nós, pobres coitados, não pôde acontecer.

Outra coisa. É uma burrice sem nome afirmar que, para mim, este tipo de terminações são TODO o modelo de língua galego do nosso idioma. Nambuangongo foi nitidamente às cordas, e, nesse aperto, começa a produzir baboseiras ao calhas.

Aconselho o desesperado Nambuangongo a adquirir (eventualmente através de furto) o mais recente número da GRIAL, e a ler o meu artigo «Uma proposta portuguesa para o léxico galego». É uma questão de manter-se informado.

Outra coisa ainda. Dizer que se prefere uma Galiza falando à lisboeta a uma Galiza sem galego é traçar um cenário apocalíptico, que, como todos os cenários apocalípticos, é demagógico. Posto perante tal escolha, também eu até preferiria uma Galiza falando um ljbuêta cerrado, ou mesmo o dialecto caipira, a uma Galiza sem galego.

Acontece que há outra saída: a construção dum modelo de língua (repito: morfológico, lexical, semântico, fraseológico, ortográfico, ortofónico) GALEGO no âmbito do nosso idioma.

É uma saída que dá trabalho (ah pois não?), e que implica conhecimentos. Em primeiro lugar do próprio galego...

Venâncio disse...

Mas estamos a falar de 'peanuts'. A verdadeira tragédia do Lusismo é que se exprime num "português" impregnado de espanhol.

O mecanismo é conhecido. O português é, a seus olhos, uma língua prestigiosa, portanto importa escrever em moldes prestigiosos. Só que os únicos moldes prestigiosos que eles conhecem são espanhóis... Pois isso! [Pues eso!].

É também interessante verificar que quanto menos lusista é um comentador menos espanholismos escreve.


De recentes comentários no PGL (vou recuando no tempo) destaco:

já está bem [já chega] de ter de cumprir as "obras de misericórdia" sem nada a câmbio [em troca]...

muito obrigado pela pontualização [esclarecimento].

A este passo [por este andar] imos ter de fundar uma sociedade maçonica

Por favor, não mo tomes a insulto [como insulto]

A olhos [aos olhos] de uma ignorante nestes assuntos esse é facto curioso.

Mas o que lhes deixaste agora vai bem, assim que [de modo que] suponho que não o retirarão

Vaites! Vaites! E ao teu [trata de ti/ das tuas coisas], meu. A papar moscas!

Dou por boa a etimologia, embora não acabe de [não consiga] a ver com muita claridade...

Tomei-me a moléstia [dei-me ao incómodo] de comentar aqui

ETC., ETC., ETC.


Em suma: desde que a ortografia seja portuguesa, tudo vale. O «português da Galiza» dos lusistas é, na realidade, uma mixórdia castelhanizante.


P.S.
Já coleccionei largas centenas de exemplos. Para um linguista, é um material fascinante. Acrescentem-se as inúmeras hipercorrecções (hiperenxebrismos "portugueses"), reveladores dos mecanismos da aprendizagem.

Luar de Janeiro disse...

Celso: lembro perfeitamente o quando, e algumas das pessoas que me dixérom isso da Galiza se integrar politicamente em Portugal, etc. Repito que não os lembro todos, mas sim algumas dessas pessoas, e que prefiro não dar nomes porque não tem importância para o que se pretendia dizer na postagem e porque poderia errar nalgum e porque alguma dessas pessoas poderia ofender-se. Também digo que de então pra acô não lembro que ninguém me tenha falado nesses termos, nem lido nada semelhante. Isso é assim e não posso dizê-lo doutra maneira.
Claro que eu também prefiro todos os galegos falando à lisboeta antes que falando castelão, mas penso (é uma opinião, só, respeita-a, por favor) que o problema não se coloca nesses termos, coloca-se em que o mais viável para o reintegracionismo se concretizar na realidade e não se dar esse resultado de todos falando espanhol é uma norma galega à par doutras da lusofonia (seja com -om ou com -ão) Quer dizer, pode haver uma certa margem de galeguidade/diversidade dentro da substancial unidade do idioma, que todos perseguimos. Simplesmente como acontece no Brasil...
É curioso, mas advirto em muitas pessoas um receio e uma "agresividade", de maneira que uma pessoa que concorda ao 98% é atacada polo 2% em que não concorda, em lugar de se pôr o ênfase no que se concorda, que é 98%. Parece que se querem ver inimigos por toda a parte, e quem não concordar 100% é atacado ou é visto com receio e desconfiança como se fosse um inimigo infiltrado ou cousa assim.
Digo-vos uma cousa: as minhas convicções reintegracionistas são demasiado firmes. Som reintegracionista quase desde que tenho uso de razão. Ora, se não fossem tão firmes, digo-vos que achegar-me a falar com alguns de vós poria-me em fuga imediatamente.
Atrever-se a discrepar no mínimo supõe ser desqualificado e acusado de não sei o quê! Pero, hóstias, se som a favor da AGLP, a favor do que tu defendes, Celso, simplesmente o meu pecado é usar umas formas verbais e defender ou não atacar uns -om!!! Se mesmo usando -ão som assim atacado, o que seria se fosse um utente do galego ILG-RAG que vinhesse aqui com a sua curiosidade e os seus preconceitos, susceptível de ser convencido? Fugiria imediatamente, digo-vo-lo, e digo-o assim porque já me falárom muitos convencíveis nesses termos... É incrível.
Que escrevo com -ão (e com -om), que simplesmente não ataquei os que o fazem em -om, porque penso que ambas as duas formas são compatíveis... Nambuangongo já me chamou VIP. Não amigo, VIP de nada... aprendo cada dia com a humildade de quem duvida e sabe o que ignora, e opino por se a alguém essa opinião lhe servir de algo... Vendo os comentários de alguns creio que som dos que falam aqui com mais humildade e menos arrogância. Ou é que não posso escrever com -ão??? Ou é que o -ão é monopólio dos que seguem uma ortodoxia?????
E como opino que o Prof. Venâncio tem muita razão no que diz (oh, agora serei cruzificado e morto), e como duvido, pois não deixo de, também hesitar, e procurar uma forma de os galegos serem lusófonos da maneira mais prática possível, gerando essa norma galega nem mais nem menos diferenciada do que outras normas possíveis e existentes na lusofonia como a brasileira. Como ademais, penso que essa será a melhor via para o reintegracionismo se universalizar e ganhar a partida, pois continuo nessa linha.
Que lhe hei fazer...

Nambuangongo disse...

Venâncio, com as suas correções (obrigado!) está a nos dar a razão: O MODELO DE LÍNGUA É INDEPENDENTE DA ORTOGRAFIA.

A eleição duma norma ortográfica ou outra depende da UTILIDADE, dos BENEFÍCIOS. Você chega trinta anos tarde a este debate. A sua estratégia para a língua da Galiza seria útil em 1980, hoje é inútil. E compreendo a tristeza de quem usa ou usou a norma AGAL, eu o primeiro.


E esta afirmação:


«É também interessante verificar que quanto menos lusista é um comentador menos espanholismos escreve.»

...no te la crees ni tu, chico.

Nambuangongo disse...

Luar: Concordo muito no que é mais o que nos une do que nos separa, e peço desculpas se o ofendi. A minha referência à gente VIP é para aqueles normativizadores / normalizadores que partem da ideia de que há que simplificar e reduzir para o povo que é simples, parvo e inculto e nunca compreenderia as cousas complexas.

Eu acho que sou muito heterodoxo e sempre aberto a todas as ideias e debates. Mas isso não quer dizer que não tenha já as cousas muito claras em determinadas questões.

A diferença do Venâncio, que nunca escuta e só repete o seu monólogo, acho que você é uma pessoa com a que se pode discutir, e dessa discussão tirar cousas de proveito.

Neste momento não tenho tempo para continuar este debate, mas gostaria debater mais a sério com você alguns dos temas que nesta discussão e noutros posts seus foram saindo, porque acho também que você conhece bem a diversidade das falas galegas, e entre elas as particularidades dialetais do meu galego oriental (como outras falas), que os «unisupradialectalistas» omistas nacional-galegos ou Venâncios de Portugal não conseguem encastrar bem nos seus modelos linguísticos/ortográficos, preferindo a sua negação e castração para inventarem um único dialeto galego para a nação galega, que corresponderá com o «modelo linguístico nacional» e a sua «ortografia nacional». Um ultranacionalismo sempre defendendo as fronteiras, quando outros queremos tirar o muro de Verim e todos os demais.

Venâncio disse...

Nambuangongo tem (como o Lusismo) um programa ideológico: humilhar a Espanha, graças ao reconhecimento duma língua não-espanhola no seu território.

Em si, é um projecto (e um fenómeno!) interessantíssimo, e devo dizer que alguns lusistas o assumem. O objectivo deles é pois político, tendo o idioma-ele-mesmo simples valor instrumental. Por isso não gastam com a língua grandes esforços, e reduzem a questão ao seu grau mais simples: o modelo português, e vivò velho.

Claro: aos olhos deles, eu faço figura de «ultranacionalista», quando me limito a lembrar que três modelos nacionais do nosso idioma (os existentes, brasileiro e português, e um futuro, galego) seriam perfeitamente adequados.

Mas eu sei: não é o idioma que lhes interessa, e sim a humilhação de Madrid. Seria (e será) bom que os «parceiros» portugueses e brasileiros dos lusistas saibam as contas deste rosário, e não vão na cantiga do «português da Galiza».

De resto, eles não vão em cantiga nenhuma. Nos seus países, e passados já estes anos, não escreveram uma linha sobre o Lusismo, ou sequer o Reintegracionismo, ou sequer o galego, ou sequer a Galiza. Nem Reis, nem Casteleiro, nem Bechara, nem Moreira, nem Anselmo.

Agora que nisso penso: terão eles já percebido em que param as modas? Que eu saiba, parvos não são.

Nambuangongo disse...

Nambuangongo fala em nome de Nambuangongo, não do lusismo inteiro.

Nambuangongo, infelizmente para você, não é apolítico.
´
Nambuangongo no seu programa ideológico é anarquista, e não reconhece nem o Reino de Espanha nem a República Portuguesa. Nem lhe interessa o que pensam os notáveis de Madri ou de Lisboa. E menos os «lost in traslation/shuttle». Nem o que reconheça ou deixe de reconhecer o regime pseudo-fascista espanhol, senão, entre outras muitas cousas, A LÍNGUA QUE EXISTE na Galiza e deseja CONTINUE EXISTINDO, e o acesso à cultura do seu povo, hoje ANALFABETO na sua própria língua.

Nambuangongo combateu, combate e sempre combaterá a ignorância e a mentira.

Nambuangongo não deseja humilhar a ninguém, não obstante, jurou não se deixar humilhar nunca mais.

Nambuangongo no seu programa linguístico é internacionalista, defende uma única ortografia supra-nacional complexa, válida para representar todas as falas dialetais do nosso sistema linguístico, desde o galego montanhês oriental até o carioca, passando pelo madeirense e o alentejano, o benguelês e o luandês.

Nambuangongo no seu programa cultural defende a livre circulação, sem fronteiras nem alfândegas nacionais, nem necessidade de «adaptadores/tradutores» profissionais aos modelos linguísticos nacionais. E defende a inter-contaminação, fusão e mestiçagem dos traços linguísticos próprios da nossa língua e a sua constante evolução.

Nambuangongo odeia os museus, as múmias e as naturezas mortas, quase tanto como as línguas litúrgicas só utilizandas na administração pública e na literatura.

Nambuangongo não negará nunca que a língua, entre outras muitas cousas, também é um instrumento político. Nem rechaçará utilizá-lo como tal. Sabe bem, daí a sua preocupação.

Venâncio está totalmente louco, perdido, e desesperado quando diz que não nos interessa a língua e que o nosso único objetivo é humilhar a Madri. Avise então o senhor do perigo a portugueses e brasileiros, esses que não têm interesse nenhum pela Galiza. Tome a sua aspirina B e não se importe mais pelas modas efêmeras.

Ou continue a ladrar como o cão raivoso do seu último comentário, que muito nos anima.

Celso disse...

Luar de Janeiro: Eu não te ataquei. Simplesmente, foquei-me nesse argumento fantasmagórico sobre o projeto unionista de alguns lusistas, cujos nomes nunca se mencionam, e cuja relevância atual no reintegracionismo, com tudo, é mínima frente às boas centenas de pessoas que já o praticam. Essa parte do teu texto, com licença, soou-me a mal jornalismo, desse que tem que procurar o mais "destacado" dos "dous lados". Mas não te ataquei.

Eu, como Nambuangongo, aborreço dos estados. Contudo, deixai-me dizer: Aborreço tanto que me parece contraditório preocupar-se com que a Galiza, no exercício da sua soberania, decidisse se unir a Portugal em lugar de ter estado próprio.

Quanto ao modelo de língua, já o disse Nambuangongo: do que se trata é de criar um modelo galego dentro da lusofonia. Mas "galego" não significa necessariamente enxebre, currinho, étnico, singular (inglês "quaint"): significa gerado por nós e com o trabalho de gente na qual outra gente confie. Legitimar-se consiste nisso. Falarão os factos, não as vontades. Saúde!

Venâncio disse...

Nambuangongo vive de intenções, que digo eu?, de sonhos, como esse de instalar na Galiza o modelo de língua português. Celso vive de intenções, mais sensatas essas, como é "criar um modelo galego dentro da lusofonia".

O facto (e eu atenho-me aos factos) é que, até hoje, nenhum lusista caracterizou esse modelo "galego".

Pelo contrário. A insistência no ÃO (dentro do plano, mais vasto, de apagar qualquer rasto estrutural galego), a persistente castelhanização fraseológica do português, a sistemática contaminação semântica do português pelo castelhano, a sistemática ausência de léxico galego, inclusive do estrutural (destaco os advérbios e conjunções incluídos no "Léxico galego" da AGLP), tudo são sinais inequívocos de que isso de criar um modelo galego é, na boca dos lusistas, conversa de café.

Nambuangongo, como outros lusistas, ignora (ou faz que ignora) que entre a Língua e as falas existem os modelos de língua nacionais, objecto de cuidados, de animada discussão, até dum são orgulho.

É esse são orgulho que falta nos lusistas galegos. É nesse ponto que baterão com os narizes no momento em que, realmente, entrem em contacto com brasileiros e portugueses. Mas, possivelmente, isso nunca acontecerá. O mais certo é ficarem na sua concha, muito quietinhos, esperando que o Mundo se acomode a eles. Daqui a 20 anos, achá-los-emos no mesmo exacto sítio.

Mas, claro, o "louco" sou eu.

Nambuangongo disse...

Se o senhor diz...

O Nambuangongo só vai perguntar duas questões:

1º - Que é para você «um modelo de língua nacional»? Defina esse conceito, por favor. Simplesmente ortografia nacional? Com escrever em norma AGAL já está pronto esse «modelo de língua nacional»?

2º - Os lusistas radicais são preguiceiros e inúteis, e você o messias linguístico dos galegos, que faz para nos salvar? Qual é o seu contributo? As babalhas que lhe caem da boca e a merda que nos atira? (E já advirto, li os seus artigos...)

Conversas de café são as suas. Pode permitir-se. No seu modelo de língua nacional de nação com estado e língua normal, bem ao quente. Outros andamos «distraídos» com o a sociolinguística duma língua em retrocesso, em processo de hibridação, atacada polas autoridades e com os seus utentes analfabetos nela e cheios de auto-ódio.

Para você a língua da Galiza é a língua dos quatro escritores, e os problemas da língua da gente sem língua plena ficam-lhe muito longe.

Enfim...

Venâncio disse...

Nambuangongo insiste em dar de mim uma imagem tola, aloucada. Serve os seus propósitos.

Volta sempre ao mesmo: que para mim MODELOS DE LÍNGUA NACIONAIS seriam "ortografias diversas". Quantas vezes (mais cem? mais mil?) é preciso dizer a este senhor o que um modelo de língua implica. Pois implica a MORFOLOGIA, a SINTXE, o LÉXICO, a SEMÂNTICA, a FRASEOLOGIA, a ORTOGRAFIA, a ORTOFONIA, a PRAGMÁTICA.

Em todos estes domínios, há reconhecidamente para todos os brasileiros um modelo de língua português europeu, e para todos os portugueses um modelo de língua brasileiro. Isto é o b-a-ba, mas, para certos indivíduos, é preciso estar sempre a repeti-lo.

O mesmo sucede entre brasileiros e portugueses em relação ao galego. Há claramente, e são inúmeras, as especificidades estruturais galegas de toda a ordem dentro do nosso mesmo idioma. Que haja um grupelho de desgraçados sem pátria nem rumo que ande a apregoar que não, que o galego é todo muito portuguesinho, e praticamente nada os distingue - eis o que é ridículo, mentiroso e (perante os mais jovens reintegracionistas) irresponsável.

Por último: Nambuangongo acoita-se sob um confortável "nick". É normal na Net e sua cultura. Mas não é o mais corajoso, nem o mais elegante, quando se discute com pessoas que, mal ou bem, dão a cara.

Venâncio disse...

P.S.

Just for the record.

Uma reacção amena e gentil ao meu artigo na Grial encontra-se aqui:

http://xavieralcala.org/?p=412

Celso disse...

Apenas um esclarecimento desnecessário, Luar de Janeiro: "Criar um modelo galego dentro da lusofonia" não é um louco invento recente de Nambuangongo nem meu: é a base e o alvo do reintegracionismo e do galeguismo linguístico histórico. Qualquer pessoa medianamente informada na Galiza sabe isto, e qualquer pessoa medianamente inteligente e honesta pode comprovar que Luar de Janeiro, Nambuangongo, Celso e Isabel Rei compartilham este modelo e este objetivo. Portanto, qualquer tentativa de dividi-los (que é o objetivo do poder galego, e, em definitivo, o sonho do españolimo) é inútil, estúpida e patética.

Luar de Janeiro disse...

Já fôrom apagados os comentários redundantes, entre eles alguns do Luar que também saírom repetidos, e os do Nambuangongo.
-Venâncio: essa listagem de erros... Terei em conta para, daqui em diante, não cair neles... E bem-vindas sejam essas sugestões para melhorar a nossa expressão -eu, quanto à minha, assim hei fazer.
(Continua noutro comentário, porque tão estenso me não deixa postá-lo)

Luar de Janeiro disse...

-Nambuangongo: não se pode abusar da dialetologia como infelizmente se tem feito nas faculdades de "Filoloxía" galega... Mas -e em díálogos que mantivem com reintegracionistas olhavam para mim com certa arrogância e como se eu fosse, pouco menos, um inimigo infiltrado- a dialetologia serve para relativizar as diferenças, e falo não só da dialetologia galega, mas portuguesa, brasileira, mesmo espanhola. Em épocas que infelizmente vão ficando já recuadas na vida deste que se diz Luar, viajei muito pola Galiza, algo também por Portugal e por Espanha... Sempre reparando no falar das gentes, vendo diferenças e afinidades, fenómenos e variantes que apareciam aqui e acolá. Isso serviu-lhe precisamente para relativizar e afastar de si esse culto à diferença que tanto se vê no campo isolacionista.
E, mesmo assim, vejo difícil que as nossas teses possam triunfar sem uma norma galega que mantenha algumas das peculiaridades. E isto não por facilitar ao povo a aprendizagem, não, mas porque é o que se vê noutras variantes, brasileira, argentina, das diferentes línguas internacionais... Rodrigues Lapa, quando dizia aquilo de "Fala galega, mas língua portuguesa da Galiza", dizia que essa língua culta portuguesa podia e devia manter as peculiaridades galegas mais relevantes, como fai o brasileiro. Não mais, não menos (como tenho o livro de Lapa posso procurar a referência) Quais sejam essas peculiaridades... isso é problema árduo que o tempo irá perfilhando, mas ao meu ver seriam, sinteticamente estas: formas verbais (conhecendo também as outras mais internacionais), te/che, cousa, dous, polo, pola (mas sem excluir e conhecer também coisa, dois, pelo, pela) e, para consumo interno, -om, -am (mas usando -ão, para contextos mais formais e internacionais) Isto de -om,-am para consumo interno é uma opinião a que cheguei não sem hesitações, e que ainda não tenho de todo clara, de todos os jeitos. E, claro, léxico galego como o que está na Priberam, na Porto Editora, e outro mais que se for incluindo... Isso seriam as peculiaridades mais salientáveis, ao meu ver, do Português da Galiza... Ah, e que me não esqueça: exercício de humildade e reconhecermos as contínuas interferências do espanhol que sofremos, e luitarmos desesperadamente por as corrigirmos. Reitero, Venâncio, bem-vindas sejam as tuas sugestões, luitarei desesperadamente por as levar à prática...
E, ainda, luitarmos desesperadamente por falar com fonética portuguesa da Galiza. Reitero: ide ao blogue do Gascon e ouvide as gravações que ali estão... A fonética não castelanizada é importantíssima.
Finalmente, Nambuangongo, creio muito interessante esse debate ou, melhor, diálogo que me propõe... Quando quiger... acô ando!
Essa variante galega, num mundo globalizado, entrará em contato com as outras, como já acontece com a brasileira e a portuguesa, e daí virão mudanças e misturas, e tudo o que vinher... será bem-vindo. Aí concordo, deixem circular os produtos sem censuras nem normativizadores ou "adaptadores"... Não entendo como hai obras vindas duma parte que são "adaptadas" noutra dentro da lusofonia... Não, a obra devia ser lida por todos como ela nasceu, e como muito deviam pôr-se notas a rodapé para os leitores doutras áreas lusófonas...
(Continua no seguinte, que tão longo não deixa o programa pôr um comentário)

Luar de Janeiro disse...

E isto já vai acabando, terceira parte:
-Celso: Tenha por não existente esse parágrafo se assim quiger.. Não tira nem põe nada ao sentido do que se pretendia dizer na postagem.
Deixe-me dizer que era introduzido pola expressão: "Hai, ainda, quem considerou a necessidade de inserir as falas galegas dentro do padrão português, ao ponto de ser a norma de Lisboa o referente da Galiza..." E já só por simples curiosidade lhe direi que algumas dessas pessoas com quem falei chegárom a dizer-me que pretendiam pedir a nacionalidade portuguesa e que se o não faziam era porque "perderíamos muito jogo aqui" (entenda-se na Galiza), e que o que queriam era integrar politicamente a Galiza em Portugal. Isto foi alô por setembro de 1987, durante o II Congresso da Língua Portuguesa da Galiza.
Claro que podem ser casos isolados, mas no artigo de José Henrique Peres Rodrigues que citei na postagem fala-se dessa tendência que considera a norma de Lisboa como modelo para as falas galegas espanholizadas. Então, dixem-me quando o lim, aquilo que eu ouvira era expressão de uma corrente mais ou menos organizada dentro do reintegracionismo... E pugem-no na postagem... Ora, despois nunca voltei a ouvir isso da integração política... nem lembro tê-lo visto nos artigos teus que lim -por isso me surprendeu quando dizias que tu eras dessa opinião-
Isto conto-o aqui, já, como simples curiosidade...
Ora, se da postagem se deduzia que se pretendia, maldosamente, apôr esse discurso a todos os partidários do -ão, peço desculpa porque o erro foi meu ao exprimi-lo. Eu pensava que com a expressão "hai quem considerou" era suficiente para indicar que era uma parte (alguns) e não o todo quem assim opinava.
Resumindo: continuo a pensar que a discussão -ão/-om não é para tanta liorta, e agradeço os contributos que espero sirvam para todos -eu o primeiro- aprendermos mais.
E como reconheço que não acabo por ter a cousa de todo clara... continuo a opinar o que está na postagem, até alguém me convencer doutra cousa.

Venâncio disse...

No meu artigo na Grial (peço perdão, mas é - desde os textos de Lapa - o primeiro texto dum português, nessa revista, sobre o idioma) aludo à Associaçom Galega da Língua, ao seu Portal, a Carlos Quiroga, a Álvaro Iriarte, cito Fernando Corredoira, cito Freixeiro Mato... enfim, que inimigo sou eu do Reintegracionismo? Tudo isto no exacto seio do Oficialismo.

Ou por outra: quem dos lusistas tem tomates para fazer o mesmo ao Oficialismo numa revista ou portal reintegracionistas?

Esse silenciamento é cobarde, é improdutivo, é estúpido.

Venâncio disse...

P.S.

As desavenças e os ódios mortais entre gente galega da cultura são praticamente o primeiro tema de conversa entre portugueses quando se fala da Galiza. É triste. Por isso já propus vezes sem fim a feitura dum livro, a editar em Portugal e/ou no Brasil, sobre a Galiza e o galego, redigido por galegos, donde constasse o que interessa, e é muito, e se desse mesmo conta dos diferentes pontos de vista.

Isso daria da Galiza, e da cultura galega interveniente uma outra imagem, e não a de eternas dissensões. Enquanto isso (ou iniciativa semelhante, noutro suporte) não se fizer, quaisquer esforços de contacto com a Lusofonia serão baldados e continuareis a falar sozinhos.

Venâncio disse...

Caro Luar,

No atinente à infiltração do castelhano na escrita, não tens (nem o Nambuangongo) que agradecer-me. Faço regularmente revisão de traduções, e portanto essa minha intervenção tem tanto de altruísmo como de deformação profissional.

O problema parece-me complexo. O papel do castelhano como idioma de cultura quase obriga a decalcá-lo. Isso sucedeu, séculos a fio, em Portugal, facto que ando exactamente a estudar (tenho uma conferência em Compostela a 9 de novembro, sobre o tema), pelo que estou particularmente (se não doentiamente) alerta para o fenómeno. É assombrosa, é mesmo inquietante, a permeabilidade de português e galego ao castelhano. Hoje ainda.

Mas não me parece fácil "desligardes" o castelhano. Assim, o que resta é atentar no galego. Estranhamente, noto (p. ex. nos fóruns do PGL) que, quando se quer produzir humor, se recorre ao castelhano ipsis verbis. Dá a impressão de que não sabeis produzir humor em galego, ou que o recalcais (por vergonha de passardes por "rurais"?).

Atentar no galego, pois. Aprendê-lo, se for o caso. E usá-lo com galhardia. O galego possui imensas locuções próprias e exclusivas. Há uma importante bibliografia a esse respeito, no Oficialismo. E elas são usadas, com naturalidade, por numerosos escritores. Uma coisa é certa: sem uso, elas irão perder-se... sendo, fatalmente, substituídas por castelhanas.

E vamos dar ao mesmo: brasileiros e portugueses usam as suas inúmeras locuções exclusivas. Porque haveriam os galegos de renegar as suas? Eu nunca uso locuções brasileiras (ou só por brincadeira). Um brasileiro não usa as portuguesas (que, para começar, nem conhece). E mesmo assim entendemo-nos bastante bem.

Outro problema é a contaminação semântica. Já uma vez (no fórum do PGL) mostrei o labirinto semântico que são, em português e castelhano, os verbos SOBRAR, RESTAR, TIRAR e SACAR. A semântica é, possivelmente, o problema maior. Não só vosso. Também tradutores do castelhano para português se vêem às aranhas, e não raro soçobram. Eu acredito que a semântica portuguesa é aplicável ao galego, e deveria fazer-se um investimento nesse sentido.

O problema é o bilinguismo do cidadão espanhol da Galiza, e a quase impraticável compartimentação no seu cérebro. Isto é tanto mais complexo quanto a maioria dos (numerosos) "falsos amigos" entre castelhano e português são-no parcialmente. O conteúdo duma palavra coincide nuns casos, mas noutros não.

Em suma: não vos invejo. Mas continuo a pensar que, para um galego, o refúgio mais seguro (e mais digno) o tem ele em casa.

Nambuangongo disse...

Luar, por vezes pode parecer que eu sou um localista fazendo apologia da minha fala dialetal e da dialetologia, que não compreende o que é o supra-dialetal e defende «modelos de língua» dialetais e rechaça os nacionais. Totalmente falso.

Em primeiro lugar, não existe uma dialetologia galega a sério. Quando eu leio como o Fernández Rei caracteriza dialetos e traça isoglossas, não sei se rir ou chorar. Quando menos no meu caso. Quando ele diz como eu e os meus vizinhos falamos, dou-me conta que esse gajo não compreende nada. E como ele, todos os outros «escolásticos», algum até reintegracionista.

Em segundo lugar, já não fazem sentido novos estudos dialetológicos. Os dialetos galegos estão a desaparecer, a se fundirem numa neo-língua autonómica. Só ficam umas ruínas nos idosos, que já nem dá o tempo para estudar, pois eles morrem e anda quebrada a transmissão inter-geracional. As falas galegas não só estão interferidas polo castelhano, também sofrem interferências internas, sendo a maior delas e a mais exterminadora, o modelo linguístico RAG-ILG, que tem acima o problema de ser indiretamente castelhanizador.

É justo no RELATIVISMO das características dialetais (morfológicas, sintácticas, léxicas, semânticas, fraseológicas, fonéticas, e pragmáticas) no que eu quero chamar a atenção.

A característica «cantades» pode ser vista como o standard, e a dialetal oriental «cantais» uma exceção minoritária no contexto galego, mas também pode ser vista «cantais» como o standard esmagador em toda a lusofonia, e o «cantades» a exceção, ainda mais ridícula e minoritária. Tudo é relativo.

Como relativos são o ceceio e o sesseio, o teismo e o cheismo. Mas há gente que não quer ver esta relatividade, e quer definir o modelo linguístico galego em termos ABSOLUTOS.

Essa gente parte do modelo linguístico isolacionista. Renuncia às falas galegas fora da autonomia, já seja o Bérzio ou o norte de Portugal, e evidentemente ao sistema completo como referência. Herda também do isolacionismo a metodologia: primeiro as decisões, e só depois a justificação de tais decisões.

http://www.pglingua.org/foros/viewtopic.php?f=8&t=1692&start=30

Nambuangongo disse...

Ah, as decisões!!! Eis o problema.... que infelizmente não só implica a MORFOLOGIA, a SINTAXE, o LÉXICO, a SEMÂNTICA, a FRASEOLOGIA, a ORTOGRAFIA, a ORTOFONIA, a PRAGMÁTICA.

Modelo linguístico... para o que? Para fetiche dos linguistas? Não senhores.

Modelo linguístico FUNCIONAL para que os galegos tirem dele o máximo benefício e desinstalar o castelhano dos lugares na vida dos galegos que hoje ocupa. Ainda que os madrilenhos se sintam humilhados...

Modelo linguístico para a HEGEMONIA SOCIAL desse modelo.

O modelo linguístico galego terá que contar nas decisões também com os factores SOCIOLINGUÍSTICOS, de STATUS LEGAL, de PRESTÍGIO, os MEIOS DISPONÍVEIS, a CAPACIDADE DE ATRAÇÃO DE NOVOS UTENTES, as CIRCUNSTÂNCIAS POLÍTICAS,...

Ignorar esse factores desde o «purismo» do linguista, para nós é um suicídio. Portugueses e brasileiros poderão permitir-se, nos não.

O caso é estar consolidados na lusofonia. Depois já eles irão sabendo do nosso modelo, como hoje já começam a saber no nosso léxico...

Nambuangongo disse...

E aqui andam os raposos a atrapalhar:

O Carlos Quiroga tem um modelo de língua galego, embora também não seja «perfeito» (procure o Venâncio os castelhanismos).

Esse modelo, no seu livro Inxalá, formalizado com a ortografia AGAL, chegou a Portugal e o editor detetou «uma ortografia estranha» que mandou «adaptar». E a adaptadora, que tinha que justificar um trabalho além da substitução automática dos -çom a -ção e similares, que faz em duas horas qualquer aplicativo informático, começou a mudar algumas cousas. O Venâncio sabe bem...

Esse mesmo livro, com o mesmo modelo de língua, simplesmente com a ortografia do AO, não precisaria de nenhuma adaptação nem adaptadora, em último caso, se o editor é muito esquisito, anotações no rodapé.

- O livro em normativa NOMIGA mais editado da história foi "O lápis do carpinteiro", de Manuel Rivas com 78.000 exemplares.

- Qualquer livro em normativa AGAL está a anos luz dessa cifra.

- O livro mais editado e divulgado na nossa história é o "Inxalá" de Carlos Quiroga em padrão internacional, com 100.000 exemplares (por agora)

O modelo linguístico, for qual for, é formalizado com uma ortografia. A ortografia, ou ortografias, é o tema central do fio do Luar, não o modelo de língua.

E aqui o professor continua a defender para nós, que tanto nos ama, uma ortografia diferenciada, MINORITÁRIA e sempre MINORIZÁVEL não humilhante para Madri. Nem problemática em Lisboa... não vaia ser que por causa da língua do português da Galiza tenham problemas com Madri...

Venâncio disse...

O "professor" é um simples linguista (menos do que isso: um historiador do idioma), e portanto não se ocupa de calculismos políticos. Nem galegos, nem madrilenos, nem portugueses. Ocupa-se do idioma. Já publicou muito sobre os «brasileirimos» que penetraram o português europeu, e agora ocupa-se de penetrações castelhanas. Tudo imensamente sexy.


*


O "professor", que também entende alguma coisa de edição, mormente portuguesa, sabe que essas edições de "100.000 exemplares" são, na prática, enganosas. Só um reduzido número de pessoas aceita ou leva para casa um livro grátis, sobretudo se de autor desconhecido do público (e o Carlos é-o, e sabe-o bem). Os armazéns dos jornais estão a abarrotar de ofertas grátis, que vão ser guilhotinadas.

Além disso, na publicidade que acompanhava o livro (e o Carlos não recebeu sequer um único exemplar), dizia-se que o autor trabalha em Compostela, mas em parte nenhuma se lê que o autor é galego. Para mais, "Carlos Quiroga" soa perfeitamente português.

De resto, e como se sabe, a edição portuguesa foi expurgada de todas as fezes galegas, portanto por aí também não se descobre.

Em suma: foi óptimo, o tema é galego, o livro é maravilhoso, a revisora fez um bom trabalho. Mas nada justifica triunfalismos, menos ainda comparações com Rivas que, esse sim, é bem conhecido em Portugal e no Brasil. Graças às magníficas traduções/adaptações que aí se fizeram.

Venâncio disse...

P.S.

Isto de «expurgada das fezes galegas» é inspirado na afirmação dum linguista português do séc. 18 que escreveu, acerca de António Vieira (o mais célebre escritor português do séc. 17), o seguinte:

«A este insigne escritor devemos o ter a linguagem mais expurgada das antigas fezes do dialeto Galiziano, que a cada passo se acha de mistura nos autores que lhe precederam».

Tanto desprezo havia pelo galego!

Nambuangongo disse...

Meu caro sexólogo, para a sua pura língua nacional, já sabe, sempre a camisinha! Nenhum brasileirismo! Nenhum galeguismo!

Compreendo também que você é um tradutor/adaptador defendendo o seu grêmio...

Mais três perguntas...

O Paulo Coelho (do modelo de língua nacional brasileiro) é traduzido/adaptado para os portugueses (do modelo de língua nacional português)?

Por que você defende uma ortografia para o «modelo de língua nacional galego» que foi, é e sempre será traduzida/adaptada?

É o Manuel Rivas o modelo de intercâmbio cultural da Galiza com a lusofonia que você deseja?

Venâncio disse...

O encapuzado de nick angolano tem de mim a opinião sempre contrária aos factos. Supõe que eu me ergui contra brasileirismos, supõe que me erguerei contra galeguismos. Enfim, sua senhoria tem direitos às suas manias. Mas deita desnecessária areia no mecanismo. Too bad.

Responderei às suas perguntas:

1. Nunca li Paulo Coelho. Não é provável que algum dia o leia.

2. Não entendo porque não se publicou em Portugal o Quiroga na Norma Agal original. Uma oportunidade perdida, um teste ainda por fazer.

3. O Manuel Rivas é, desde há anos, a maior referência cultural galega em âmbito português. É, de facto, um modelo de intercâmbio cultural. Mas há ainda muito a fazer para que a Galiza seja uma referência cultural com a relevância que ela merece e nós necessitamos.

Nambuangongo disse...

Respondeu?

A criancinha fala de encapuzados quando não quer responder, mas responderei eu então:

1. Nem Paulo Coelho (exemplo de autor muito conhecido e lido em Portugal) nem nenhum outro autor brasileiro vivo é traduzido ou adaptado em Portugal. Nem vice-versa. Só é possível topar com algum clássico re-editado, adaptando uma ortografia já não vigorante.

Os «modelos de língua nacional» do Brasil e de Portugal usam na prática «a mesma» ortografia, pois as diferenças são tão mínimas que passam desapercebidas. (A mesma entre aspas, evidentemente)

Como também a quase totalidade dos galegos, no fundo lusófonos, ainda sabendo ler português não sabem se estão a ler português brasileiro, continental. E isso também acontece com os não-lusófonos que apreendem português.


2. As diferenças da normativa OMista não passam desapercebidas nos olhos de brasileiros e portugueses, e apresentam PROBLEMAS DE COMPREENSÃO, especialmente nas flexões verbais, pois a gente comum não tem os conhecimentos dessas particularidades que temos os próprios galegos ou você e algum outro linguista. O teste está feito muitas vezes na rede. E eu tenho comprovado inúmeras vezes em portugueses, brasileiros e angolanos de carne e osso.

É exatamente o mesmo que acontece nos galegos que rejeitam este padrão por não compreensão das variantes alheias à sua fala.

Eles dizem «isso não é galego», e sabe que os portugueses perante um texto em normagal dizem «isso não é português»

É um problema de IGNORÂNCIA DO SISTEMA COMPLETO e DESCONHECIMENTO DAS VARIANTES introduzidos no ENSINO da língua.

A alternativa é que vocês introduzam no ensino da língua essas particularidades. Em Espanha acontece com as particularidades do argentino, e delas falou já Luar. Mas em Portugal ou Brasil não. Têm vocês essa vontade? Podemos nós desde a Galiza forçar tal situação? Pode você garantir que não vão existir esses problemas de compreensão?

Como dizem em Espanha, «los experimentos, con gaseosa».

No seu ensino em Portugal não podemos atuar, na Galiza andamos a isso...

3. Se você considera o caso do Rivas um modelo de intercâmbio cultural válido na lusofonia, nunca mais diga que é reintegracionista, e por favor, afaste-se de nós.

Celso disse...

Luar, no meu último comentário disse: "qualquer tentativa de dividi-los [=dividir-nos] (que é o objetivo do poder galego, e, em definitivo, o sonho do españolimo) é inútil, estúpida e patética". Creio detectar que respondes a isto, voltando ao tema dos lusófonos de Lisboa, etc. Mas, se este for o caso, esclareço: Com estas palavras NÃO ME REFERIA A TI. Fiz algo mal neste fio: ler comentários que não devia.

Sobre ão/om, fico e concordo 100%, de novo, com Nambuangongo: um texto correto com "ão", em Portugal e Brasil, seria "português", e os editores meteriam mão minimamente. Lembro, de novo, a experiência que muitas pessoas tivemos na década de 1970 a ler literatura hispanoamericana (em espanhol), sem a edição ser modificada uma vírgula, com dicionário na mão, porque as letras eram as mesmas. O mesmo me aconteceu depois lendo literatura portuguesa e brasileira, e o mesmo deveria acontecer fora com a literatura galega. Para isso precisamos de dicionários que nos incorporem, claro. Mas com as mesmas letras, ou, se não, voltaremos ao que aconteceu ao Carlos Quiroga.

E, quanto ao modelo de língua, volto a concordar com Nambuangongo, que volta a expressá-lo melhor do que eu posso: Se na Galiza existem praticamente todas as variantes que se encontram no resto da lusofonia, a escolha de uma para a codificação é arbitrária. O critério da "maioria" não é suficiente, porque se quadra a maioria é "salgo", não "saio", "oigha", não "oia" nem "ouça", e assim por diante. Um parvo povo inteiro costumou-se em pouco tempo a aprender na escola o terrível lusismo minoritário "animais", não "animales" nem "animaes" nem "animás". Não é tão grave. Na nova fase, no neogalego que precisamos, a gentinha (sobretudo a jovem, que tem menos prejuízos) terá que aprender muito mais. Já está aprendendo. A riqueza duma língua não consiste em ter uma variante morfológica por comarca.

Saúde!

Celso disse...

Mais uma nota, e desculpe-se-me a auto-referência, mas é a única experiência que tenho sobre o assunto. Tenho escrito alguma cousinha literária cá e lá na Internet. Alguma gente tem gostado. E bastantes destas pessoas que gostam são portuguesas ou brasileiras. Jamais, nos comentários, se focam nesta ou naquela palavra particular da Galiza, cujo sentido se pode tirar polo contexto. Antes, penso que surpreende e atrai a diferença: a diferença de vários níveis da língua, excepto as letras.

Em contraste, tomemos "ao chou", ao acaso, qualquer texto literário galego atual em norma RAG, publicadinho em papel porque o paga a Xunta. É i-rré-gra-fá-vel a AO. Por que? Porque os escritores tiram de Dicionário Particular da Língua Galega como se formas gerais (hiperónimos) da língua não existissem. Confunde-se a "riqueza" léxica da Galiza com uma acumulada profusão de diferencialismos. Isto chama-se "lexicalismo", e é traço central da concepção dominante da "língua galega". Muito mais agudo do que no s. XIX. O resultado é indigestão. Também seria infumável um romance que SÓ utilizasse o léxico do sertão ou do Algarve.

Isto, quanto à língua literária. Mas quando os escritores galegos estendem este solipsismo à prosa técnica ou até jornalística, o resultado é ridículo. Sem dúvida, o estilo "português" parece-se mais com o castelhano do que "o galego" (acusação comum aos lusistas), porque os dous primeiros são línguas, e uma língua não é um simples jogo de palavras.

Celso disse...

E acabo, sobre o tema om/ão, que era o do fio: Dada a enorme potencialidade da escrita comum para a Galiza, verdadeiramente não faz qualquer sentido destacar perante milhões de leitores potenciais (dezenas, centenas, os que sejam) que na Galiza "pronunciamos" "pam" e "razom", talvez excepto na distinção das formas verbais "comeram / comêrom", defendida repetidamente polo muito lusista Académico da Língua Carlos Durão. De facto, se internamente se aduz o caráter "pedagógico" do om/am, externamente até parece arrogância exibir que, enquanto a Galiza adopta o 99% duma grafia cuja "correspondência com a fala" está provadamente descartada ("também, assim, postagem, cançom", etc. etc.), reserva-se a decisão rabuda de NÃO adoptar "ão" porque "somos diferentes". Tão diferentes que, no wonder, se nos dá por escrever em dialeto, vão-no-lo corrigir.

Venâncio disse...

Nambuangongo anda fixado, como sempre fez, na ortografia. E, de facto, as diferenças ortográficas entre brasileiro e português são mínimas. Embora importantes, dada a frequência de algumas delas.

Compreendo, também, que a Nambuangongo escape todo o resto das diferenças entre português e brasileiro: a morfologia, a sintaxe, a semântica, pagramática, e possivelmente grande parte do léxico. Para um português, para um brasileiro, elas são nítidas. São consistentes. São respeitáveis, e respeitadas.

Claro que, num primeiro contacto de brasileiros e portugueses com as especificidades galegas, haveria alguma perplexidade, alguma hesitação. Isso sucedeu em Portugal antes das telenovelas brasileiras, e sucede diariamente no Brasil num primeiro contacto com o modelo de língua português europeu.

Acontece que os lusistas (e Nambuangongo é um óptimo exemplar), fixados na ortografia, nunca se deram conta da enorme clivagem que já se estabeleceu entre português e brasileiro. Não tanto ao nível "culto", este nosso aqui, mas no da comunicação real.

Um bom exercício para Nambuangongo cum suis seria a leitura do romance Longe de Manaus, de Francisco José Viegas, onde, a partir de certa altura, português e brasileiro se alternam, capítulo a capítulo.

De resto, é impraticável, a nível escolar, fornecer mais do que uns rudimentos do outro modelo. Em Portugal, até seria desnecessário. As crianças portuguesas apanham cada dia com horas de brasileiro na TV. E as crianças brasileiras... pergunto-me se há, no sistema escolar brasileiro, qualquer interesse em conhecer, muito ou pouco, esse modelo de 10 milhõezitos de europeus. O Brasil tem mais em que pensar.

Bom. Quanto a Rivas...

Venâncio disse...

Quanto a Rivas... escreve Nambu:

Se você considera o caso do Rivas um modelo de intercâmbio cultural válido na lusofonia, nunca mais diga que é reintegracionista, e por favor, afaste-se de nós.

Pois é: há galegos bons e gelegos maus. Nambu é bom, Rivas é mau.

Este divisionismo tem vindo a afastar, sistematicamente, portugueses que algum dia contactaram com galegos. Eu conheço casos concretos. Eu próprio poderei ser um dia um casos concreto.

De resto, basta observar o fórum do PGL. Seria um notável ponto de encontro de brasileiros e portugueses com o Reintegracionismo. Mas que acontece? os sempre poucos que houve foram saindo, deixando a falar entre si quatro ou cinco académicos galegos e quatro ou cinco aspirantes a académicos. Realmente, é impossível aguentar um clima de sobranceria, de ortodoxa pureza, de desgaste e suspeição de quantos não pensam como "nós", os puros, os bons.

Com Rivas em Portugal (como eu presenciei nalgumas ocasiões) não existe essa tensão de ortodoxia, e pode uma pessoa concentrar-se no mais importante: a Galiza, a sua expressão cultural, aquilo que nos une, aquilo que pode unir-nos mais.

Em comparação com o nervosismo lusista, Rivas é um alívio. Como o são também Carlos Quiroga, e Elias Torres, e José Luís Rodríguez, que efectivamente e regularmente participam, como galegos, em actividades culturais portuguesas com repercussão, presencialmente ou em meios de comunicação.

Venâncio disse...

Só mais um apontamento sobre a união política. É indesmentível que existe, dentro do Reintegracionismo galego, uma corrente (bom, uma correntezinha) unionista.

Ela toma hoje expressão nalguns membros e cercanias da AGLP (a vários pretextos, como o "celtismo", fundamento rácico para unir galegos e portugueses). No passado tomou forma num grupinho apoiado pela Extrema-direita portuguesa (leia-se Galiza, Portugal – uma só nação, Lisboa, Nova Arrancada, 1997).

Enfim, para dizê-lo à francesa, tudo muito louche, de fugir espavorido.

Venâncio disse...

Pra complicar ainda mais as coisas, não há, e nunca houve, no campo reintegracionista, quem tomasse explicitamente distância desse delírio unionista. Há, nesse campo, uma tolerância ao extremismo que em nada facilita (nem facilitará) as relações do Reintegracionismo com a opinião portuguesa. Possivelmente, reina o receio de que qualquer distanciamento será lido como uma adesão ao inimigo espanhol. E assim o extremismo traz refém o Reintegracionismo inteiro.

Isso passa-se, claro, também no Oficialismo. O extremismo espanholista exerce uma contínua chantagem sobre indivíduos moderados, que desejariam uma relação mais descontraída com o Reintegracionismo.

A um português, tudo isto é muito difícil de explicar. Eu, pelo menos, não o consigo.

Venâncio disse...

Se eu fosse galego (e portanto reintegracionista agálico) destinaria todos os meus esforços a conseguir, da parte do Reintegracionismo oficialista (Freixeiro, Fernández Rei, Monteagudo, García negro, Nogueira) o reconhecimento explícito da unidade do idioma. Sem discussões normativas ou ortográficas.

Já o escrevi alhures: tudo teria sido diferente se a Agal tivesse, algum dia, declarado o galego-RAG forma, decerto descorada, mas autêntica, do nosso idioma. Isso daria à Agal um direito e um peso extraordinários dentro do panorama galego.

Mas ainda se está a tempo.

Anônimo disse...

- Na Galiza não há um modelo de língua desde 1550 (+/-). Desde o XIX ensaiaram-se muitos. Habitualmente hiper-enxebristas. Desde a década de oitenta houve novos ensaios mas já definitivamente encaminhados a um outro modelo: o do castelhano. Com menor participação do enxebrismo, agora simples marca de galeguidade.
Mas continua sem haver modelo de língua, como é lógico. Que sociedade sem poder político é quem de criar um modelo de língua em concorrência com outra língua?
Ainda é possível perguntar... e para que?! Para que passar os trabalhos? É para tricentésima parte do Brasil algo útil criar e manter um modelo de língua próprio? Ou pode simplesmente usufruir do português ou do brasileiro com algumas particularidades, por enquanto não há poder político?

- Porque a Galiza e Portugal não haviam fazer parte da mesma entidade política infra-comunitária partilhando a mesma língua e cultura? Pela interferência do castelhano e a Espanha na Galiza? Então será preciso diminuir até apagar essa interferência.